QUILOMBOS: UM ENTRE LUGAR NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA.

QUILOMBOS: UM ENTRE LUGAR NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA.


Marilene Neves de Oliveira
Prof. Dr. Iosvaldyr. C. B. Júnior
Instituto Educacional do Rio Grande do Sul- IERGS-
Pós-Graduação História e Cultura Afro-Brasileira. Disciplina: Quilombos e as Comunidades Remanescentes de Quilombo.
10/07/2012



RESUMO

Os quilombos surgiram em nossa sociedade desde o século XVII, como símbolo de resistência dos cativos africanos. Após a abolição os quilombos foram esquecidos pelo poder vigente, causando assim um atraso histórico de reparação para nossa cultura afro-brasileira. Sendo os quilombolas estarem nas mesmas terras que seus antepassados e resistiram a tantos conflitos de interesses atualmente e anos anteriores, os mesmos se afirmaram um “entre - lugar” cultural na sociedade contemporânea. As associações e representações de quilombolas buscam legitimar seus territórios com documentos que lhe garante o direito de posse legitima. Documentos esses instituídos pelas leis federais de nosso país  que lhe garantem um lugar histórico, social e cultural.

Palavra chave: Quilombos; A Legitimidade; O Entre - lugar dos Quilombos.

1 INTRODUÇÃO

Neste artigo pretende-se analisar com olhar contemporâneo o entre - lugar cultural dos quilombos em nossa sociedade.

2  QUILOMBOS

Os quilombos surgiram como uma manifestação de resistência contra o escravismo no qual eram submetidos. Um anseio de liberdade e de fugir dos castigos e necessidades que enfrentavam os escravos.
No Rio Grande do Sul criou-se uma teoria de que não havia escravos negros. Pelo motivo de confundirem com as imigrações de alemães e italianos. Isto é um senso comum que se propagou por muito tempo. A realidade é outra.  O Rio Grande do Sul foi um grande centro de escravos de tal importância. Todo o processo de charques e carnes salgadas era produzido com trabalho escravo. O modo de produção do séc. XVII e metade do séc. XVX era o escravismo, com certeza havia outros trabalhos, mas considerando a época a base era o modo de produção escrava (o negro africano).
Os quilombos eram organizados em seu ambiente; havia um líder (chefe de tribo) e os armados para combate.
As organizações socioeconômicas dos quilombos rurais e urbanos se davam das maneiras semelhantes. Ambos tinham como sustento a caça e pesca uma pequena agricultura, troca ou rapinagem. Muitos dos escravos ainda prestavam serviços clandestinos
Os quilombos urbanos ficavam perto da cidade comercial. Pelo motivo que os cativos urbanos não conheciam outro serviço como o rural, ficava difícil para eles este tipo de serviço, então os cativos fujões fundavam quilombos próximo dos centros urbanos. Os cativos ofereciam seus serviços clandestinamente. (COMUNIDADE DE QUIMLOMBO)

As relações com sociedade colonial em maioria eram contra os quilombos. Havendo várias expedições para captura dos negros fujões e destruição dos quilombos. Em contra partida outros se manifestavam a favor e até mesmo ajudava o negro escravo.
Os cativos fugiam das plantações, catas, charqueadas, cidades etc. para estabelecerem-se em local de difícil aceso ou afastado do mundo escravista, onde fundavam uma comunidade de produtores independentes ou associados. [...] Quilombolas viviam do abastecimento da população citadina em caça, lenha, ovos etc. foi mais comum no Brasil o quilombo agrícola, ou seja, a comunidade estável de quilombolas vivendo, sobretudo como cultivadores e artesãos independentes. (MAESTRI, 2006, P 154,155)

Os quilombos contemporâneos é tal importância hoje, como centro de organização para conhecimento do nosso passado. Sua resistência mostra a força que teve no passado colonial.
A partir da organização comunitária, as comunidades remanescentes do RS exercem sua capacidade de argumentação política, com agentes do movimento negros Instituições de Ensino superior, fazendo com que o Estado Brasileiro, representado por suas instituições, venha reconhecer oficialmente, através de ordenamentos jurídicos e administrativos a existência destas comunidades. Nos últimos dez anos a sociedade rio-grandense se insere no debate de forma mais intensa sobre o reconhecimento formal do movimento quilombola. (SILVA,2008)


Atualmente conforme a Federação das Associações das Comunidades dos Quilombos do RS são 35 entre eles rurais e urbanos. Os rurais no litoral rio-grandense - do- sul; municípios de: São José do Norte, Mostradas, Tavares e Palmares do Sul. Região central: Restinga Seca, Formigueiros e Entorno. A serra e do sudeste, a oeste da Laguna dos Patos.  Os quilombos urbanos: Ilha dos Marinheiros (Rio Grande) Atualmente cinco quilombos urbanos em Porto alegre: Alpes, Areal da Baronesa, Vila Sargentos, Família Fidélis e Família Silva. No município de Canoas: Chácara das Rosas. Se hoje ainda existem o motivo é que sua capacidade de organização e resistência é forte. (FAQRS, 2012)
Os quilombos foram desde os primeiros tempos de escravidão um meio de resistência e sobrevivência dos negros escravos, causando assim, uma perseguição constante dos senhores coloniais contra os escravos. O escravo considerado mercadoria de grande valor não era aceitável suas fugas.
Os cativos fugidos e seus descendentes eram riquezas, passíveis de serem capturados. O quilombo fragilizava a ordem negreira, ao mostra-se como alternativa aos cativos. (MAESTRI, 2006, P 154)


3 A LEGITIMIDADE

A legitimidade dá-se quando em primeira fase um grupo de quilombolas reconhece-se como um remanescente e descendente afro-brasileiro. As leis tende a confirmar a busca do entre - lugar. No imaginário sempre existiu o lugar do negro escravo não legitimado e nem reconhecido pelos poderes vigentes de anos atrás. O cativo sempre esteve ali, no seu espaço, sendo utilizado, mas não reconhecido. O lugar lhe pertencia, por que não se extinguiu. Provou-se pelas luta constante que permaneceria reivindicando seu espaço. Desde anos 80 busca-se o direito definitivo do reconhecimento político e social dos quilombos e sua população.

Conforme a Associação Brasileira (ABA). Define quilombo contemporâneo como comunidade de remanescente de quilombo: grupos sociais cuja identidade étnica os distingue do restante da sociedade; a forma lingüística e religiosa de organização Artigo de dei Federal: em 1988, ART. 68. Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras, é reconhecido a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes títulos respectivos. Artigo de lei Estadual: m 2002, 25 de Março decreto. 41.498. Dispõe sobre o procedimento administrativo de reconhecimento, demarcação e titulação das terras das comunidades remanescentes de quilombos do Estado do Rio Grande do Sul. Estadual: Lei nº 11731 (09/01/2002). Dispõe sobre a regularização fundiária de áreas ocupadas por remanescentes de comunidades de quilombos.

Segundo Doula e Santos (2008, p 70), detêm, assim, que o processo de mudanças conceituais sobre os quilombos é instaurado para que seja atendida toda a comunidade negra, rural ou urbana, com origens afro descendentes.

4 O ENTRE-LUGAR DOS QUILOMBOS NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

“Refletindo sobre o conceito contemporâneo e ampliado de quilombo, enfatizam os elementos identidade e território como essências nesse processo” (DOULA E SANTOS, 2008, p 71).

 Vamos considerar que no momento que a voz da comunidade se faz ouvir, movimentos e pesquisadores se interessem pelas comunidades buscando legitimidade para tais grupos, se estabelece uma busca de identidade e consolida-se um entre-lugar cultural e social. Torna-se o lugar da diferença. O lugar se encontra na sociedade historicamente e socialmente.

Segundo Bhabha, “O trabalho fronteiriço da cultura exige um encontro com “o novo” que não seja parte do continuum de passado e presente. Ele cria uma ideia do novo como ato insurgente de causa social ou precedente estético; ela renova o passado, refigurando-o como um “entre - lugar” contingente, que inova e interrompe a atuação do presente. O “passado-presente” torna-se parte da necessidade, e não da nostalgia, de viver”. (BHABHA, 2010, p. 27)

É necessário construir com associações e a comunidade juntamente com os poderes públicos o ato de afirmação da identidade negra, sendo ela com a mais antiga organização comunitária os “quilombos”. A constante busca da legitimação do território comprova que existe sim um “entre - lugar” de quilombos na sociedade contemporânea brasileira.

Segundo Arilson (2009), o negro teve suas representações na sociedade.

A iniciativa de organizar o Primeiro Congresso Nacional do Negro coube à Sociedade Beneficente Floresta Aurora - SBFA. Fundada na cidade de Porto Alegre no dia 31 de dezembro de 1872, essa agremiação é considerada a sociedade negra mais antiga do Brasil. Seu fundador foi o negro forro Polydorio Antonio de Oliveira. O principal objetivo da organização era zelar pela comunidade afro-gaúcha materialmente e socialmente, auxiliando, inclusive, na realização de enterros dignos para os negros da capital.


A Frente Negra Brasileira, nascida na capital paulista de 1931, foi um diferencial para os negros brasileiros. Além de ser uma associação recreativa e beneficente, tinha boa parte de suas atividades focadas na esfera política, transformando-se, em 1936, em partido político. (VELASCO, 2009)


4.1 O LUGAR E O TERRTÓRIO EM PORTO ALEGRE
O presente projeto Territórios Negros em Porto Alegre busca conhecer o lugar de convivência dos negros escravos do século XVIII e XVX. Escolhendo neste projeto três lugares: Cais do Porto; Igreja Das Dores; Praça da Alfândega.
Segundo Iosvaldir, (2010, p. 12) “Desta forma, foi necessário evocar os lugares por onde o negro s fez presente na cidade de Porto Alegre, contribuindo com a sua cultura singular de matriz Africana”.

O Cais do Porto de Porto Alegre do século XVIII teve um papel de importância na economia e sociedade de Porto Alegre. Através dele se recebia toda a mercadoria vinda de outras regiões. A importância para os negros escravos como fonte de trabalho e porto de fuga.

O trabalhador escravizado urbano podia ser explorado diretamente pelos proprietários, alugado ao ganho. O cativo ganhador ou jornaleiro vendia livremente serviços e mercadorias pelas ruas da cidade e, com o que obtinha, pagava seus gastos e uma renda fixa ao proprietário, diária, semanal ou mensal. (MAESTRI, 2006, P. 90).

A primeira parte foi construída em 1850.  Em 1913 as obras foram concluídas com 146 metros e 4 metros de profundidade. Em 1983 foi tombado patrimônio histórico.

Onde se localiza a Igreja Das Dores em frente ficava o “Largo do Pelourinho”. Existia um tronco oficializado para castigos de negros escravos. (Informação verbal, 28 de Abril de 2012).
Em 1813, inaugurada a Capela-Mor, foi realizado o translado da imagem de Nossa Senhora das dores; a partir de então, as energias e esmolas se voltaram para a construção do interior da igreja. No período inicial da construção, um negro forro conhecido como preto José, era o responsável pelas medidas da obra, levando a crer que escravos participaram da construção, embora em minoria se comparados aos operários contratados.
Foi tomada como patrimônio histórico em 1938 a pedido da comunidade. (http://www.igrejadasdores.org.br).

A Praça da Alfândega, conhecida no século XIX com o “Largo das Quitandeiras”. Negras escravas e alforriadas vendiam doces e outros produtos em mutua cooperação para comprar alforrias para negros escravos. A irmandade dos negros africanos teve sua origem na África conhecido como valor civilizatório africano, no sentido de agregar a família.

Em 1820, ao visitar o Sul, Auguste de Saint-Hilaire registrou a importante presença de cativos em Porto Alegre e em Rio Grande. Na Capital, na movimentada Rua da Praia, viu muitos carregando volumes. O transporte urbano de mercadorias era um quase monopólio servil, realizado por cativos de pernas e costas arcadas pelo esforço desmedido realizado, não raro desde a infância. (MAESTRI, id)


Pesquisa de campo. Visitação aos locais que comprovam os “territórios de negros de Porto Alegre”.
5.1         Visita e observação: 28 de Abril de 2012.

Bairro Bom Fim
Cais do Porto
Igreja Das Dores
Igreja do Rosário
Igreja do Divino Espírito Santo
Mercado Público
Museu José Felizardo
Praça Brigadeiro Sampaio
Praça Garibaldi
Praça da Redenção
Praça XV
Rua loureiro da Silva
Rua José do Patrocínio
Rua da Margem
Rua Miguel Tostes
Rua Francisco Ferrer
Travessa dos Venezianos
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Podemos dizer em considerações finais que o lugar da diferença dos quilombolas se faz presente quando grupos envolvidos buscam uma afirmação de identidade através das leis vigentes. Buscando os mesmo que essas sejam aperfeiçoadas conforme a necessidade e a realidade histórica e social do grupo.
O território como o lugar de pertencimento vai trazer a compreensão do espaço de convivência de negros escravos dos séculos 18 e 19. Trazendo para a contemporaneidade a necessidade de resgatar a cultura negra em Porto Alegre. Reconhecer os lugares onde os negros escravos trabalhavam e conviviam


6 REFERÊNCIAS

ABA. www.abant.org.br/. Acesso em: 08 de Maio de 2012.

BHABHA, Home K. O local da Cultura. 5ª Ed. Belo Horizonte: editora UFMG, 2010.

COMUNIDADE DE QUILOMBO.  Quilombos. Disponível em http://www.cpisp.org.br/comunidades.  Acesso 23 de ago. de 2011.

Federação das Associações dos Quilombolas do RS. www.palamares.gov.br. Acesso em: 10 de junho de 2012.

DOULA, Sheila M; SANTOS, Alexandra. Políticas Públicas e Quilombolas: Questões para Debate e Desafios à Prática Extensionista. Revista Extensão Rural. MG, nº 16, p, 67-83, dez/2008.

JÚNIOR, Iosvaldyir C. B. Os Percursos do Negro em Porto Alegre: Territorialidade Negra Urbana. 1ª Ed. Porto Alegre: Vinícius Vieira da Silva, 2010.

MAESTRI, Mário. O Escravo no Rio Grande do Sul. 3ª Ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2006.


 SILVA, Paulo Sérgio de. Quilombo do Sul do Brasil: movimento social emergente na sociedade contemporânea. http://est.edu.br/periodicos/index. php/identidade/article/viewFile/25/38
Acesso em: 10 de junho de 2012.

VELSCO, Barbara M. de. Morte à Ré ...Pública- Frente Negra Brasileira: Monarquismo Paulista do século XX. Disponível em: http://www.pph.uem.br/cih/anais/trabalhos/487.pdf. Acesso em 10 de jun. de 2012

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